SALAS DE EXPOSIÇÃO

O pensamento humanista e o compromisso de Paulo Freire com a transformação da educação e da sociedade, amplamente difundidos em suas obras, e, principalmente, a coerência e a ética de ser e agir ao longo da vida lograram autoridade e admiração ao educador no mundo inteiro. Em Brasília, o seu crescente prestígio revelou-se nas diversas homenagens que lhe foram prestadas e na sua memória reverenciada pós-morte, em reconhecimento ao seu valioso legado.

Em 1992, a Universidade de Brasília propôs à Organização dos Estados Americanos (OEA) a concessão do Prêmio Andrés Bello a Paulo Freire. Referendada a proposta, o educador fez jus à honraria internacional, sendo-lhe outorgado o referido prêmio, em reconhecimento pela melhoria das condições de vida dos povos das Américas, mediante o seu trabalho a serviço da educação.

Precedendo a outorga do título ao educador na sede da OEA, nos EUA, Paulo Freire recebeu homenagem solene no Auditório Dois Candangos da Faculdade de Educação da UnB, em novembro de 1992. Com o auditório lotado, a solenidade realizou-se sob a presidência do Reitor Antônio Ibañez Ruiz e com a presença do Ministro da Educação Murilo Hingel, do deputado Salviano Guimarães, presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal e de outras autoridades.

Após o evento, estudantes da Faculdade de Educação convidaram Paulo Freire para o “batismo” da agremiação estudantil com o nome Centro Acadêmico Pedagogia do Oprimido (Cape). A atribuição desse nome decorreu de decisão adotada em assembleia do movimento estudantil, em reconhecimento pela luta do educador em defesa dos pobres e oprimidos.

Uma homenagem significativa a Paulo Freire ocorreu também na Ceilândia, cidade-satélite de Brasília, em 30 de agosto de 1996, durante a instalação do 1º Fórum Regional de Alfabetização de Jovens e Adultos, promoção conjunta do Governo do Distrito Federal, da Frente Brasília Popular e do Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia (Cepafre). Após proferir a conferência de abertura do evento, o educador teve suas mãos moldadas em uma placa de cimento feita pelo pedreiro Valdivino Ferreira da Silva, alfabetizado pelo seu método.

Emocionado pelo gesto, Paulo Freire dirigiu a sua fala aos presentes e declarou:

Paulo Freire na Celilândia, 1996.

“Para mim, estar aqui hoje é uma razão de imensa alegria; faz dois dias que eu estava com Nita em Niterói — duas noites passadas —, quando recebi da universidade uma honraria acadêmica; me fizeram doutor honoris causa da universidade, por causa destas coisas! Mas hoje eu recebo outro doutoramento, que pra mim tem tanta importância, tanta significação quanto o doutoramento da academia; eu recebo aqui, agora, um doutoramento do povo (o diploma do povo!), um diploma que não está aqui, mas que está na cabeça de todo mundo; no corpo, na imaginação, no sonho […] O diploma deve dizer: “Paulo, meu camarada, você andou brigando, andou lutando, andou fazendo umas coisas com outros Paulos, com outras Marias […] E essas coisas sempre disseram respeito a nós. Nós agora, aqui em Ceilândia, damos a você um diploma que não é igualzinho ao doutoramento da universidade, mas que tem a mesma significação, porque é o testemunho nosso de que você faz uns trecos certos.”

Ao final de sua fala, o educador reafirmou sua esperança na transformação do país.

É isso que eu sinto hoje, aqui nesta noite! E outra coisa que eu gostaria de dizer a vocês, pra terminar, é que eu estou absolutamente convencido, e sempre estive, desde a minha mocidade, de que nunca fazemos as coisas sozinhas! O que coube a mim, talvez mais do que a outras pessoas, foi ter visto, foi ter imaginado, foi ter sonhado claramente com umas coisas que nem todos estavam vendo, ou com o que nem todos estavam sonhando, mas que se não tivesse havido a solidariedade de uma quantidade enorme e crescente de gente que confia em si mesmo, de gente que quer assumir um papel sério na história da vida política deste país, se não houvesse gente assim — gente como vocês desta cidade —, evidentemente que Paulo Freire estaria esquecido, ou seria convertido a um verbete de enciclopédia; e eu me sinto mais do que um verbete de enciclopédia, eu me sinto gente como vocês, cheio de esperança e convencido de que, possa até eu não ver este país mudado, mas não tenho dúvida nenhuma de que terei contribuído com um mínimo para a mudança deste país. Obrigado!

O prestígio de Paulo Freire em Brasília evidencia-se em múltiplas homenagens que lhe têm sido prestadas por educadores, estudantes e participantes de movimentos sociais, sendo o seu nome atribuído a escolas, centros de alfabetização, auditórios e outros espaços educativos e culturais espalhados por todo o Distrito Federal. A notoriedade do grande educador resplandece nas datas de seu aniversário, em eventos e publicações que versam sobre suas obras e realizações.

Assim, a notícia do falecimento de Paulo Freire, no dia 2 de maio de 1997, causou comoção em todo o país e, em Brasília, não foi diferente. O Governo do Distrito Federal decretou luto de três dias e, nessa ocasião, foram promovidas solenidades em sua homenagem e proferidos discursos que ressaltaram a grandiosidade da figura do educador e a sua relevante contribuição para a democratização da educação brasileira.

Alguns meses após seu falecimento, em 8 de novembro de 1997, a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) concedeu a Paulo Freire o título de Cidadão Honorário de Brasília (post mortem). De iniciativa do Deputado Wasny de Roure, a proposição foi apresentada antes da morte do eminente educador, em agosto de 1996, mas o processo de tramitação nas Comissões da Casa impediu que a honraria lhe fosse prestada ainda em vida.

Outro fato auspicioso, também decorrente de deliberação da Câmara Legislativa do Distrito Federal, foi a instituição do Prêmio Paulo Freire de Criatividade, na rede pública de ensino, por meio da Lei n.º 2.407, de 21 de junho de 1999, consoante projeto apresentado pela deputada Lúcia de Carvalho. Esse prêmio compõe-se de Diploma e da Medalha de Criatividade Paulo Freire, sendo prevista a sua outorga, anualmente, pelo órgão competente do Poder Executivo. A referida premiação visa homenagear os profissionais das escolas públicas do Distrito Federal que desenvolvem projetos pedagógicos significativos para a melhoria da qualidade do ensino.

A destacar, ainda, o monumento erguido na Esplanada dos Ministérios — tributo a Paulo Freire em espaço público da capital federal. Localizado no jardim em frente ao Ministério da Educação, a obra foi inaugurada, no dia 12 de dezembro de 2003, por Cristovam Buarque, então Ministro da Educação, em reconhecimento à atualidade das ideias do educador para o desenvolvimento da educação brasileira e formação da cidadania.

De autoria do artista Henrique Gougon, residente em Brasília desde os anos de 1960, o monumento, em mosaico de mármore e granito, abriga quase mil assinaturas de adultos recém-alfabetizados, de todas as partes do país. As assinaturas foram reproduzidas com fidelidade, por meio de brocas de dentista que demarcaram a superfície da pedra, abrindo espaços de perfuração e cobertos com tinta automotiva, de modo a perenizar a sua presença junto ao educador. A homenagem, em parceria da Unesco, tem amplificado a obra de Paulo Freire, universalizando a sua mensagem aos povos de todos os continentes. Sua edificação simboliza a reparação de uma dívida nacional para com um dos maiores pensadores deste país.

Igualmente de grande magnitude a iniciativa da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) que, consoante proposição do Deputado Sidney da Silva Patrício, declarou Paulo Freire “Patrono da Educação do Distrito Federal”, no dia 19 de setembro de 2011, data comemorativa dos 90 anos de nascimento do educador.

Ressalta-se que a concessão desse título ao emérito educador, no Distrito Federal, antecedeu a aprovação da Lei n.º 12.612, de 2012, proposta pela deputada Luiza Erundina à Câmara Federal e sancionada pela presidente Dilma Rousseff, no dia 13 de abril de 2012, conferindo a Paulo Freire o honorífico título de Patrono da Educação Brasileira.

Na esteira desses acontecimentos, a Universidade de Brasília outorgou ao educador o título Doutor Honoris Causa (in memoriam), em 6 de outubro de 2011, durante a Semana Universitária, que teve como tema “90 anos de Paulo Freire: um marco para a reflexão sobre os rumos da Universidade Brasileira”. O pedido de concessão do título, de iniciativa do Centro de Memória Viva – Documentação e Referência em Educação Popular, Educação de Jovens e Adultos e Movimentos Sociais do Distrito Federal, foi instruído por memorial subscrito pela Faculdade de Educação da UnB.

Na cerimônia de outorga, Ana Maria de Araújo Freire, viúva do educador, conhecida como Nita, recebeu, emocionada, o título e, em suas palavras, atestou os laços do educador e pensador recifense com a Universidade de Brasília e a capital federal:

Foto: Arquivo Central/UnB