SALAS DE EXPOSIÇÃO

A capital nascente

sonhos,
invenções
e utopias

Operários nas ruas recém abertas e poeirentas. Ao fundo o edifício do Congresso em fase estrutural.

Foto: Arquivo Público – DF

A inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960, representou a concretização de um sonho acalentado por longo tempo de transferir a capital brasileira do litoral para o centro do país. A saga da conquista do território brasileiro, que no período colonial levou os bandeirantes a se aventurarem pelo interior do país, teve sua narrativa fundamentada em diferentes critérios, ao longo dos séculos, por meio de expedições e mapeamentos, com vistas à ocupação da região Centro-Oeste do Brasil. Papel de destaque coube à missão Cruls, entre 1892 e 1893, que demarcou o local para receber a nova capital da nascente república.

O movimento mudancista somente veio a ser definido na segunda metade do século XX, com a decisão do presidente Juscelino Kubitschek de edificar Brasília. A proposta de governo de JK estava apoiada no chamado Plano Nacional de Desenvolvimento, mais conhecido como Plano de Metas, que era constituído de 31 metas e, entre os seus objetivos, incluía o crescimento da economia com base na expansão industrial, nos investimentos em geração de energia, transporte (construção de rodovias), infraestrutura e educação. O slogan “Cinquenta anos em cinco” embalava a campanha de cumprimento das metas. Brasília era a meta-síntese.

Com a aprovação da Lei n.º 2.874, em setembro de 1956, e a criação da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), a mudança da capital federal ganhou materialidade. Brasília foi construída em tempo recorde e passou a ser considerada símbolo da modernidade, pelo seu traçado urbanístico e arquitetônico singular, que conjugava as utopias de seus idealizadores, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, para torná-la, mais do que uma cidade administrativa, um lugar aprazível e com qualidade de vida para seus moradores.

Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, a convite do governo federal, cuidavam do planejamento do sistema de educação — do ensino fundamental ao superior —, que serviria de modelo para todo o país. O sistema educacional do Distrito Federal era constituído por um grupo seleto de professores concursados, com vistas a estabelecer a educação pública de alta qualidade na nova capital. Nesse contexto, ideias inovadoras eram defendidas para democratizar a educação e renovar os modelos pedagógicos tradicionais.

Anísio Teixeira

Darcy Ribeiro

As obras de construção da nova capital atraíram milhares de trabalhadores. Estima-se que, entre os anos de 1956 a 1960, mais de 60 mil migrantes de vários pontos do Brasil deslocaram-se para a região escolhida para erguer a cidade, em busca de trabalho e melhores condições de vida. Em sua maioria, eram homens, jovens, com baixa escolaridade e elevada taxa de analfabetismo. Em relação ao atendimento à demanda de educação de adultos, haviam ações isoladas, via de regra, por iniciativa de voluntários e das empresas de construção civil, que ensinavam os operários nos acampamentos e canteiros de obras.

No entanto, havia, em todo o país, uma efervescência de ações voltadas para a educação popular, que intencionavam elevar o nível educacional e cultural da população brasileira. As estatísticas registravam a existência de, aproximadamente, 40% de pessoas sem saber ler e escrever, o que se colocava como barreira ao desenvolvimento nacional. Na tentativa de superação desse quadro, nas décadas de 1950 e 1960, surgiram iniciativas de grande relevância, tais como o Movimento de Educação de Base (MEB), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); os Centros Populares de Cultura (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE); o Movimento de Cultura Popular (MCP), da Prefeitura de Recife; a Campanha de Educação Popular, da Paraíba; e a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, da Prefeitura de Natal.

Nesse cenário, destaca-se, no Nordeste brasileiro, a figura de Paulo Freire, o principal personagem desta exposição. À época, o mencionado educador desempenhava a função de coordenador do Centro de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco, onde desenvolvia atividades de alfabetização de adultos, criando uma metodologia considerada revolucionária. Pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido, foi convidado pelo governador Aluízio Alves, do Rio Grande do Norte (RN), para aplicar seu método na cidade de Angicos. Os resultados desse trabalho, desenvolvido no primeiro semestre de 1963, foram reveladores do êxito obtido pela utilização do novo método de alfabetização: cerca de 300 trabalhadores aprenderam a ler e escrever em apenas 40 horas.

O sucesso alcançado pela experiência em Angicos obteve grande repercussão nacional e, inclusive, ultrapassou as fronteiras do território brasileiro por meio de matérias jornalísticas publicadas pelos principais órgãos de imprensa internacional, entre os quais: o jornal The New York Times, Herald Tribune, Sunday Times, Le Monde, Time Magazine, United e Associated Press.

Essa experiência bem-sucedida credenciou Paulo Freire a receber convite do Ministério da Educação para assumir a coordenação do Programa Nacional de Alfabetização (PNA), criado pelo governo João Goulart. No segundo semestre de 1963, o educador deslocou-se para Brasília, onde desenvolveu um projeto piloto de alfabetização de adultos, que irradiaria a experiência freiriana para as demais regiões do país.

Jornais anunciam o sucesso da experiência de alfabetização de Angicos, no Rio Grande do Norte.

SALA 3

Da redemocratização a 1996

  • Contexto histórico
  • O Método Paulo Freire
  • Projeto Piloto de Alfabetização/Brasília
  • Plano Nacional de Alfabetização
  • A interrupção do programa com o golpe militar